quinta-feira, 3 de outubro de 2013

LÁGRIMA DE PRETA

Continuo a divulgar autores portugueses, que entendo serem menos conhecidos.
É o caso de ANTÓNIO GEDEÃO

Rómulo Vasco da Gama Carvalho (Lisboa, 24 de Novembro de 1906 - Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997) foi um químico, professor de Físico - Química do Ensino Secundário no Liceu Pedro Nunes e Liceu Camões, pedagogo,investigador de História da ciência em Portugal, divulgador da ciência, e poeta sob o pseudónimo de António Gedeão. Pedra Filosofal e Lágrima de Preta são dois dos seus mais célebres poemas.
Académico efectivo da Academia das Ciências de Lisboa e Director do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa. O dia do seu nascimento foi, em 1997, adoptado em Portugal como Dia Nacional da Cultura Científica.
                        in Wikipédia

Encontrei uma preta
Imagem do Google
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
 muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio,
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

sábado, 1 de junho de 2013

LOAS À CHUVA E AO VENTO

O texto que se segue é da autoria de Matilde Rosa Araújo, que nasceu em Lisboa, em 1921 e aí faleceu em 2010.Foi uma escritora portuguesa especializada em literatura infantil.
Foi autora de mais de 4o livros.
Dedicou-se à defesa dos Direitos das Crianças, através da publicação de livros e de intervenções em organismos com atividade nesta área, como a UNICEF em Portugal.
Recebeu vários prémios e o grau de Grande- Oficial  da Ordem do Infante D. Henrique.

   in Wikipédia

Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue...Pingue...Pingue...
Vu...Vu...Vu...

Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue...Pingue...Pingue...
Vu...Vu...Vu...

ó vento que vais,
Vai devagarinho.
ó chuva que cais,
Mas cai de mansinho.
Pingue...Pingue...
Vu...Vu...

Muito de mansinho
Em meu coração.
Já não tenho lenha,
Nem tenho carvão...
Pingue...Pingue...
Vu...Vu...

Que canto tão frio,
Que canto tão terno,
O canto da água,
O canto de inverno...
Pingue...

Que triste lamento,
Embora tão terno,
O canto do vento,
O canto do inverno...
Vu...

E os pássaros cantam
E as nuvens levantam!

  in LIVRO DA TILA

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

AS ÁRVORES E OS LIVROS

O autor deste poema é Jorge Sousa Braga,poeta e médico português.
Já casado e pai de dois filhos,dedicou-se ao estudo e à consulta de casos de esterilidade/infertilidade.
Tinha apenas oito anos quando escreveu o seu primeiro poema,uma espécie de homenagem ao então futebolista Eusébio,um dos seus ídolos de infância.A partir dos 14 anos,começa a escrever,consciente de que a poesia começara já a fazer parte,de forma intrínseca,da sua vida.

                                  ( in Infopédia-resumo)


 As árvores como os livros têm folhas
 e margens lisas ou recortadas,
 e capas(isto é copas) e capítulos
 de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis,histórias de fadas,
 as mais fantásticas aventuras,
 que se podem ler nas suas páginas,
 no pecíolo,no limbo,nas nervuras.

 As florestas são imensas bibliotecas,
 e até há florestas especializadas,
 com faias,bétulas e um letreiro
 a dizer:«Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
 no teu quarto,plátanos ou azinheiras.
 Para começar a construir uma biblioteca,
 basta um vaso de sardinheiras

   Jorge Sousa Braga,Herbário

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

UM LIVRO NA SALA DE VISITAS


O autor é Manuel Alegre,que estudou Direito na Universidade de Coimbra,onde foi um ativo dirigente estudantil.Foi campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra.
Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e colaborador de Via Latina.
Passa dez anos exilado em Argel,onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional.
Os seus dois primeiros livros,PRAÇA DA CANÇÃO(1965) e O CANTO E AS ARMAS(1967) são apreendidos pela censura.

Quando eu era criança,lembro-me de ver na minha casa e nas casas de pessoas de família ou amigos,normalmente na sala de visitas,um livro grande,encadernado,que se destacava de todos os outros.Nem sempre era da mesma cor,mas em todo ele havia o desenho de um homem com uma coroa de louros na cabeça e uma pala num olho.Um dia perguntei que livro era.
-Este livro chama-se Os Lusíadas,é o nosso livro-disse meu pai-,o livro dos portugueses.Foi escrito por Luís Vaz de Camões,o maior poeta português,acrescentou,apontando aquele homem de um só olho.
Às vezes abria o livro e lia para eu ouvir.
Acabei por saber de cor os primeiros versos,antes mesmo de aprender a ler:

 As armas e os barões assinalados
 Que da ocidental praia lusitana
 Por mares nunca dantes navegados
 Passaram ainda além da Taprobana,
 Em perigos e guerras esforçados
 Mais do que prometia a força humana,
 E entre gente remota edificaram
 Novo Reino,que tanto sublimaram;

Eu não sabia o que aqueles versos queriam dizer,mas gostava da música,uma música que para sempre ficou no meu ouvido.Mais tarde ensinaram-me que a «ocidental praia lusitana» é Portugal, «os mares nunca dantes navegados»,aqueles mares que eram desconhecidos até as naus portuguesas terem revelado o seu segredo,«Taprobana»,o nome antigo dado por gregos e romanos à ilha de Ceilão,atual Sri Lanka,e o«Novo Reino»,aquele conjunto de terras onde os portugueses foram chegando e acabariam por constituir o império português.

                Manuel Alegre, Barbi-Ruivo,o meu Primeiro Camões

sábado, 12 de janeiro de 2013

BALADA DE NEVE

Outro poeta português que julgo não ser muito conhecido internacionalmente é AUGUSTO GIL,natural do Porto.
A sua poesia,segundo Esther Lemos,caracterizava-se por uma atmosfera sentimental,mista de complacente e serena bondade.
Para mim,esta balada é de um encanto raro.

Batem leve,levemente
como quem chama por mim
Será chuva?Será gente?
Gente não é,certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco,há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate assim,levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve,mal se sente
Não é chuva,nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver.A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve,branca e fria...
-Há quanto tempo a não via!
E que saudades,Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto,por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos,doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro bem definidos,
depois,em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos,enfim!
Mas as crianças,Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza
uma funda turbação
entra em mim,fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
-e cai no meu coração.


AUGUSTO GIL,in Luar de janeiro

sábado, 5 de janeiro de 2013

POEMA DE CESÁRIO VERDE

Como os blogues são vistos por pessoas de várias nacionalidades,entendi por bem,antes de postar os meus escritos,dar a conhecer ao mundo alguns dos bons poetas portugueses mais esquecidos.
Segundo J.Prado Coelho,Cesário Verde é«Poeta-pintor(«Pinto quadros por letras,por sinais»),«...cantor do natural».
Eis,para mim,um dos seus mais belos poemas:

                                           De tarde

Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela;
E que,sem ter histórias nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu,descendo do burrico,
Foste colher,sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois,em cima duns penhascos,
Nós acampámos,inda o sol se via;
E houve talhadas de melão,damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas,todo púrpuro,a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

CESÁRIO VERDE(1855-1886)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

CONHECIMENTO

Gosto de conhecer mais e mais a vários níveis.Quando leio um livro,histórico ou descritivo,apetece-me deslocar até ao local onde tudo aconteceu.Como gosto de viajar,junto o útil ao agradável.

Outras pessoas,em tempos idos,resolveram divagar sobre o CONHECIMENTO.

«Aquele que se analisou a si mesmo,está deveras adiantado no CONHECIMENTO dos outros.»
                                                                                                                     DIDEROT

«CONHECER não é demonstrar nem explicar,é aceder à visão.»
                                                               SAINT-EXUPÉRY

«A cultura,sob todas as formas de arte,de amor e de pensamento,através dos séculos,capacitou o homem a ser menos escravizado.»
   ANDRÉ MALRAUX

«A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio CONHECIMENTO.»
                              PLATÃO

«Os nossos CONHECIMENTOS são a reunião do raciocínio e experiência de numerosas mentes.»
                                                                                                        RALPH EMERSON

«A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.»
                                                                                  PLATÃO

«O CONHECIMENTO é,em si mesmo,um poder.»
                                             FRANCIS BACON