quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

UM LIVRO NA SALA DE VISITAS


O autor é Manuel Alegre,que estudou Direito na Universidade de Coimbra,onde foi um ativo dirigente estudantil.Foi campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra.
Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e colaborador de Via Latina.
Passa dez anos exilado em Argel,onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional.
Os seus dois primeiros livros,PRAÇA DA CANÇÃO(1965) e O CANTO E AS ARMAS(1967) são apreendidos pela censura.

Quando eu era criança,lembro-me de ver na minha casa e nas casas de pessoas de família ou amigos,normalmente na sala de visitas,um livro grande,encadernado,que se destacava de todos os outros.Nem sempre era da mesma cor,mas em todo ele havia o desenho de um homem com uma coroa de louros na cabeça e uma pala num olho.Um dia perguntei que livro era.
-Este livro chama-se Os Lusíadas,é o nosso livro-disse meu pai-,o livro dos portugueses.Foi escrito por Luís Vaz de Camões,o maior poeta português,acrescentou,apontando aquele homem de um só olho.
Às vezes abria o livro e lia para eu ouvir.
Acabei por saber de cor os primeiros versos,antes mesmo de aprender a ler:

 As armas e os barões assinalados
 Que da ocidental praia lusitana
 Por mares nunca dantes navegados
 Passaram ainda além da Taprobana,
 Em perigos e guerras esforçados
 Mais do que prometia a força humana,
 E entre gente remota edificaram
 Novo Reino,que tanto sublimaram;

Eu não sabia o que aqueles versos queriam dizer,mas gostava da música,uma música que para sempre ficou no meu ouvido.Mais tarde ensinaram-me que a «ocidental praia lusitana» é Portugal, «os mares nunca dantes navegados»,aqueles mares que eram desconhecidos até as naus portuguesas terem revelado o seu segredo,«Taprobana»,o nome antigo dado por gregos e romanos à ilha de Ceilão,atual Sri Lanka,e o«Novo Reino»,aquele conjunto de terras onde os portugueses foram chegando e acabariam por constituir o império português.

                Manuel Alegre, Barbi-Ruivo,o meu Primeiro Camões

1 comentário:

  1. Que felicidade chegar aqui e ser recebida por este soberbo poema do Imortal Luís Vaz de Camões. Obrigada João Alberto por compartilhar esta preciosidade.
    Um grande abraço
    Gracita

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